"Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição"
"Em Portugal não há
ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta igualmente a
aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos que
constituem o movimento político das nações.
A ciência de governar é
neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela
paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo
interesse.
A política é uma arma,
em todos os pontos revolta pelas vontades contraditórias; ali dominam as más
paixões; ali luta-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade; ali há a
postergação dos princípios e o desprezo dos sentimentos; ali há a abdicação de
tudo o que o homem tem na alma de nobre, de generoso, de grande, de racional e
de justo; em volta daquela arena enxameiam os aventureiros inteligentes, os
grandes vaidosos, os especuladores ásperos; há a tristeza e a miséria; dentro
há a corrupção, o patrono, o privilégio.
A refrega é dura;
combate-se, atraiçoa-se, brada-se, foge-se, destrói-se, corrompe-se. Todos os
desperdícios, todas as violências, todas as indignidades se entrechocam ali com
dor e com raiva.
À escalada sobem todos os homens inteligentes,
nervosos, ambiciosos (...) todos querem penetrar na arena, ambiciosos dos espetáculos
cortesãos, ávidos de consideração e de dinheiro, insaciáveis dos gozos da
vaidade."
Autor: Eça de Queiroz, in 'Distrito de Évora” (1867)
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