quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O DOM DA PALAVRA

Desde criança que se aprende que aquilo que diferencia o homem dos animais é a capacidade de raciocínio. No entanto, antes de aprender a pensar, o homem conquistou o dom da palavra.

O desenvolvimento da capacidade de falar, aumenta o vocabulário e as formas de podermos usá-lo, faz dilatar o raciocínio, pelo que a palavra pode ser considerada a melhor invenção do homem. Aliás, não é por acaso que o ditado  diz que “é conversando que a gente se entende”.

Que a verdade deve ser dita sempre, não resta a menor dúvida, mas a forma como ela é dita, é que faz a grande diferença.

As palavras, escritas ou faladas, são armas poderosas nas mãos poderosas de quem tem a habilidade de manipulá-las. Podem ser usadas tanto para o bem, como para o mal. Tudo vai depender do carácter de quem possui “o dom da palavra”.

As palavras são ferramentas que se usam e abusam no nosso dia-a-dia, que por vezes surgem em abundância e, em algumas situações, parecem perdidas no nosso inconsciente. Quantas vezes se imaginam momentos, se preparam discursos, se elaboram frases para serem ditas na altura certa e aí elas faltam. Fica-se gago, muitas vezes sem conseguir articular meia dúzia de palavras com sentido, ou então, bloqueia-se, impotente, sem capacidade para fazer ecoar qualquer som.

Ao fazer uso da palavra falada deve ter-se em consideração como o fazer duma forma equilibrada, de modo que a sua dicção, melodia, intensidade, ênfase e projecção chegue ao receptor de forma coerente, natural e envolvente. Ao mesmo tempo, pode potenciar-se aquilo que falamos oralmente através da comunicação do nosso corpo, influindo, de forma significativa, a transmissão e entendimento da mensagem, actuando, ainda que inconscientemente no receptor, numa melhor percepção e imagem daquele que fala, envolvendo-o num misto de eficiência e empatia.

Ter o dom da palavra significa, genericamente, falar bem.

Saber falar bem em público é uma arte. Um atributo cada vez mais valorizado neste mundo globalizado e competitivo.

Falar bem em público é um dom de poucas pessoas, não é verdade?

Falar bem implica saber do que se fala e isto remete-nos para o conhecimento e organização do assunto a ser exposto, sendo muito importante que tenham sido feitos estudos e pesquisas sobre o assunto a abordar, a fim de que se possa deixar passar uma imagem de competência, credibilidade, eficácia, autodomínio, persuasão e conhecimento.

Hoje, mais do que nunca, é imprescindível, qualquer que seja o contexto profissional, transmitir uma imagem de competência, eficácia e autodomínio. Saber falar em público, exprimindo-se com clareza, é uma mais-valia que nenhum profissional pode dispensar.

No entanto, aquilo que se vai constatando, é que o homem está desaprendendo o dom da palavra. As novas gerações, talvez motivadas pela imagem que a televisão utiliza até à exaustão e também pela informática, deixaram de cultivar o prazer da leitura.

A quebra na venda de jornais registadas por todo o mundo e os baixos índices de leitura em muitos países – onde o péssimo sistema de ensino abre espaço para a linguagem das aparências − sinalizam um novo desafio para a civilização.

Sem dominar plenamente a palavra, o homem poderá entrar em decadência, enquanto ser inteligente.

Mas há uma questão pertinente, e não menos importante, que se coloca a quem tem o dom da palavra: De que vale o dom de falar sem o dom de ouvir?


Vasco Lopes da Gama

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