terça-feira, 31 de maio de 2011

Recordações duma viagem ao Alentejo (III) Coudelaria Alter Real (AR)



A fundação da Coudelaria de Alter não foi um acto ocasional e isolado.

Surgiu como corolário lógico de um tempo histórico e de uma política coudélica, personificados em D.João V, o Rei Magnânimo.

A ordem da Junta do Estado e Casa de Bragança, de 9 de Dezembro de 1748, marca a fundação da Coudelaria de Alter, e tem o significado simbólico de " Registo " da Tapada do Arneiro como " Solar " do cavalo de Alter-Real.

O documento fundacional da Coudelaria de Alter foi emitido por D.João V como:
" ADMINISTRADOR DA PESSOA E BENS DO PRÍNCIPE D.JOSÉ, MEU SOBRE TODOS MUITO AMADO E PREZADO FILHO, DUQUE DE BRAGANÇA ".

É ao Rei D.José I que, quase inteiramente, cabe o mérito da estruturação da Coudelaria de Alter:

Formação da manada, instalações coudélicas, alargamento do assento agrícola e da área de pastoreio, promulgação do primeiro regime coudélico que vigorou na Coudelaria.

A Casa Ducal de Bragança foi, como executante da vontade Régia de D.João V e de D.José I, o esteio da fundação e estruturação da Coudelaria de Alter.

A Coudelaria é, então, da Casa Real que a recebeu, em 1770, da Casa de Bragança, num quadro de relação bem definido; a Casa de Bragança, proprietária dos prédios utilizados pela Coudelaria de Alter; a Casa Real, reconhecida como senhoria da manada, e na situação de rendeira daqueles prédios.

Na Picaria Real, em Lisboa, o ensino de D. Pedro de Meneses, 4º Marquês de Marialva e Estribeiro-Mor da Casa Real, alcança a perfeição no rigor da técnica, na beleza dos movimentos, na elegância das atitudes. O Cavalo Alter-Real atinge o seu esplendor.

A primeira vintena do século XIX foi um período de sombras para a Coudelaria de Alter; roubo dos melhores cavalos Alter-Real, danos nas piaras, redução na área do pastoreio, vandalismo nas instalações, primeiras ameaças à integridade étnica da manada.

Em defesa da Coudelaria de Alter agiganta-se, neste período de sombras, a figura do Princípe Regente D.João.
Mas era uma luz longínqua, no Rio de Janeiro, e em Portugal o Marechal inglês Beresford. Era o poder.

- "Que se conserve sempre pura esta raça"
   12 de Dezembro de 1812
-"Que não se consinta que pessoa alguma se intrometa com o que pertence às manadas e suas pastagens"
  18 de Janeiro de 1815.

Da Nacionalização das Reais Manadas à usurpação da Coutada do Arneiro. Questionada até à existência da Coudelaria de Alter.

E mais uma vez D.João, já como Rei. A merecer um registo de memória no historial da Coudelaria de Alter.

CONTINUIDADE DIFÍCIL - 1842 - 1910

Um longo tempo de dificuldades e sobressaltos para a Coudelaria, mas também de graves ameaças à integridade étnica do Cavalo Alter-Real, foi o tempo dos cruzamentos.

COUDELARIA MILITAR - 1911 - 1941

Proclamado o regime republicano, e arrestados os bens da coroa, a Coudelaria é integrada no Ministério da Guerra, na dependência da comissão técnica de remonta, com o nome de Coudelaria Militar de Alter do Chão.

O tempo da Coudelaria Militar é uma presença notável na planificação das instalações e na racionalização da exploração agrícola da Coutada do Arneiro.

RECUPERAÇÃO DO ALTER-REAL - 1942 - 1995

Em Janeiro de 1942 dá-se a integração da Coudelaria no Ministério da Economia, na jurisdição da Direcção-Geral dos Serviços Pecuários.

Começava um longo caminho de meio século de recuperação do Alter-Real.

A recuperação do Alter-Real foi um esforço tenaz e persistente, com tempos de grandeza e de crise, de maior dinamismo e de mais apagada acção, mas, indiscutivelmente, um esforço coroado de sucesso.

REACTIVAÇÃO DA COUDELARIA DE ALTER

1996 - Arranque de uma nova etapa

Preservar e valorizar o património genético e cultural que a Coudelaria de Alter encerra e simboliza …

Um caminho que se dirige em exclusivo ao cavalo mas que passa, também, pelo desenvolvimento sócio-económico cultural e turístico do norte alentejano.

Mérito de definir e traçar esse caminho coube, em 1996, ao engenheiro Fernando Van-Zeller Gomes da Silva, ministro da agricultura.

Um destaque que lhe é devido no memorial da coudelaria, pelo respeito com que contemplou o passado, pela ambição com que perspectivou o futuro da Coudelaria Alter-Real.


 
  
                               


Vasco Lopes da Gama

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