Até meados do século XIX, não houve jornalistas profissionais em Portugal. Havia, isso sim, redatores de jornais, preocupados em historiografar o mundo, em apresentar e analisar as novas ideias que surgiam ou ainda em deixar uma marca na política ou nas Belas Letras. Vários periódicos viviam de um só homem, proprietário, redator e, por vezes, até mesmo impressor.
Mas, a partir de 1830, a situação modificou-se. Os jornais começaram a integrar mais colaboradores, surgindo as funções de editor e de chefe de redação. Para além disso, a qualidade do jornalismo português elevou-se, devido à colaboração de intelectuais e escritores. No entanto, a transformação dos "cidadãos jornalistas" e dos "políticos e escritores de jornal" em jornalistas profissionais, foi lenta e gradual.
Com os progressos técnicos e o melhoramento dos meios de comunicação e dos transportes, os jornais utilizam processos cada vez mais rápidos e seguros para a obtenção de notícias. O noticiário, ao mesmo tempo que alcança maior desenvolvimento, ganha exatidão e rigor.
No final do século XIX, a industrialização do jornalismo português gerou a necessidade de aparição de um profissional com um novo perfil. Os meios jornalísticos industrializados queriam repórteres polivalentes que se devotassem a tempo inteiro ao jornalismo. Em consequência, os jornalistas começaram a adotar critérios profissionais de elaboração da notícia, abandonando um estilo pessoal, emotivo ou literário.
À medida que o jornalismo se profissionalizou, os jornalistas melhoraram o seu estatuto social e autonomizaram-se como classe, cultivando um conjunto de conhecimentos e competências específicos, bem como normas de conduta que, ainda hoje, expressam o conjunto de valores que sustentam a sua ideologia e cultura profissionais.
É a partir da profissionalização do jornalismo, da existência de uma classe profissional com direitos e deveres, cultura, ideologia e competências específicas, que se pode falar desta actividade tal como ela é hoje concebida.
No entanto, o jornalismo em Portugal tem vindo a sofrer uma degradação acentuada ao longo dos tempos. Tratando-se de um produto caro, a lógica empresarial dos grupos económicos em que os órgãos de comunicação social estão inseridos, tem levado a cortes de custos. Estes cortes são feitos em várias áreas, muitas delas essenciais a nível jornalístico, mas tidas como prescindíveis a nível das administrações, como por exemplo: aos jornalistas que são mais bem pagos, às vezes, é melhor deixá-los sair, ou dar-lhes um subsídio para eles se reformarem.
Hoje, é necessário passar por um estágio curricular para terminar uma licenciatura em Comunicação Social ou em Jornalismo e por um estágio profissional para obter a carteira de jornalista.
O estágio curricular serve para que os estagiários possam tomar contacto com a realidade prática daquilo que aprendem nas faculdades.
Contactar com as rotinas, fazer o trabalho que qualquer outro profissional já “encartado”, faz o estagiário dar a cara e o nome por um órgão de comunicação, privando de perto com as situações características do jornalismo, tais como: contactar com as fontes, redigir artigos, ir a conferências, elaborar notícias, concluir colunas de texto e estabelecer contactos com os profissionais jornalistas mais experientes e sabedores. Estas situações são os pontos positivos dum estágio para uma licenciatura, já que possibilitam preparar, de uma melhor forma, o estagiário para o mercado de trabalho que o espera.
No entanto, cremos que os estágios também terão um lado negativo. Muitas vezes, os estagiários são, digamos, “pau para toda a obra”. Muitas vezes fazem tudo nas redacções menos aquilo para o que vão, para além de se confrontarem com estágios precários, não remunerados, onde o seu trabalho é muitas vezes exploratório e pouco integrador.
Presentemente, grande parte das redacções em Portugal sobrevive apenas à custa de estagiários curriculares e, em certa medida, profissionais. Esta situação é mais frequente nos órgãos de comunicação social de menor dimensão. No entanto, não é exclusivo destes meios de comunicação social.
Se os jornalistas recém-formados se deparam sistematicamente com enormes dificuldades em entrar no mercado de trabalho, isso é sinónimo de que o produto jornalístico se tem vindo progressivamente a degradar.
Será que o futuro do jornalismo é o “freelancer”?
Na maior parte dos casos, em Portugal, não se trata de uma escolha, mas de uma imposição do sistema. Muitos dos jornalistas vêem-se forçados a ser “freelancers”, simplesmente porque não têm onde trabalhar.
A maioria dos “freelancers”, debate-se com dificuldades altamente desmotivadoras, uma vez que financiam as peças por sua conta e risco, sem garantia alguma de que sejam compradas e, mesmo quando são, as empresas acabam por pagar quantias irrisórias, cujos prazos de pagamento, nalguns casos, atingem vários meses.
Em Portugal, tal como noutras profissões, há também vários jornalistas a trabalharem há muitos anos a recibos verdes. O recibo verde significa estar a trabalhar temporariamente para um órgão de comunicação, o que equivale a estar num limbo: não estando integrado no quadro nem sendo “freelancer”, porque não se deixa de estar preso a vínculo laboral precário.
Atualmente, mais do que nunca, o jornalismo é visto como uma das profissões mais complexas. Por um lado, há quem o faz por gosto, mas, por outro, é uma profissão onde é difícil ser-se fiel a si próprio.
Infelizmente, o jornalista, tem quase sempre de passar as notícias e a informação da forma como querem que elas sejam passadas e transmitidas, e não da forma como ele gostaria e quereria passá-las. Daí que, em muitos casos, a imparcialidade que deveria existir, não há.
Infelizmente, o jornalista, tem quase sempre de passar as notícias e a informação da forma como querem que elas sejam passadas e transmitidas, e não da forma como ele gostaria e quereria passá-las. Daí que, em muitos casos, a imparcialidade que deveria existir, não há.
Vasco Lopes da Gama
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