Cada família cumpre a sua missão, quando lhe é possível desenvolver-se como comunidade de pessoas ligadas por afectos, compromissos e por um elo de zelo mútuo, aberta à vida, à educação dos filhos e à solidariedade entre os membros, das diversas gerações que a compõem.
Para além da pessoa individualmente considerada, é nas famílias, que se deve centrar a análise e compreensão da realidade social, os critérios de decisão, o desenvolvimento de respostas e de acções.
Somos de opinião que é a partir das famílias que se pode construir uma sociedade mais humana, mais equilibrada, mais coesa e mais solidária.
Especialmente perante o idoso, a família vem assumindo um papel importante e inovador, na medida em que o envelhecimento acelerado da população, a que estamos assistindo, é um processo recente e ainda pouco estudado pelas ciências sociais.
Caberá aos membros da família entender o idoso, no seu processo de vida e de transformações, conhecer as suas fragilidades, modificando a sua visão e atitude sobre a velhice e colaborar para que o idoso mantenha a sua posição junto do grupo familiar e da sociedade.
A família precisa de um período de adaptação para aceitar e administrar com serenidade a nova situação, de forma a respeitar as necessidades dos pais e evitar que se sintam um encargo para os filhos. Daí a importância do idoso concentrar esforços para, nos mais diversos sentidos, não se entregar à inatividade evitando o mais possível o sentimento de dependência da família, que tanto aflige o idoso.
No terceiro milénio a família está cada vez mais distanciada do modelo tradicional, no qual o idoso ocupava lugar de destaque.
Estamos a viver um período de transição e mudanças, onde se torna necessário o entendimento das transformações sociais e culturais que se vêm processando nas últimas décadas, para enfrentarmos o nosso próprio processo de envelhecimento, dentro de expectativas condizentes com as novas formas de organização familiar.
Uma sociedade será aquilo que forem as suas famílias, sendo que a qualidade de vida das famílias é uma importante medida do nosso viver. Assim, torna-se necessário e importante que todos nos empenhemos num trabalho orientado para o desenvolvimento duma política de família, para os nossos dias.
Com a emancipação e inserção das mulheres no mercado de trabalho, as dificuldades económicas dos novos casais, a lotação, escassez e encarecimento de espaços seguros onde as crianças possam ficar quando os pais trabalham, a redução das famílias numerosas e alterações nas estruturas familiares, solicitaram aos avós que abdicassem da sua calma reforma a dois e passassem a assumir um papel mais activo.
Na família, os avós de hoje, mais do que os “velhinhos” queridos e pacientes que brincam, mimam, contam histórias e passeiam com os netos sempre que estes os visitam, têm um papel bem mais comprometedor na vida dos seus netos.
A relação que os avós estabelecem com os netos pode proporcionar como que uma fonte de gratificação, bem-estar e prazer, ao mesmo tempo que pode proporcionar uma oportunidade para reencontrar a sua auto-estima, pela “utilidade” que lhe é atribuída, pela partilha que fazem com os netos que, principalmente pelo característico espírito curioso dos mais novos, vão solicitar a sua sabedoria para a compreensão de tudo o que os rodeia.
Numa grande maioria de situações os netos acabam por funcionar como agentes muito importantes no “combate” à solidão, sentimento que frequentemente ameaça e assusta os idosos.
No entanto, qualquer que seja a estrutura na qual se organizará a família do futuro, há a necessidade de que se mantenham os vínculos afectivos entre seus membros e os idosos. Nesta fase da vida, o que o idoso necessita é sentir-se valorizado, viver com dignidade, tranquilidade e receber a atenção e o carinho da família.
Vasco Lopes da Gama
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