sábado, 13 de novembro de 2010

Os Seniores na Família


A família constitui a célula fundamental da sociedade, representando, desde sempre e numa dinâmica evolutiva e sempre renovada, o espaço mais importante da realização da Pessoa e da transmissão de valores e da vivência entre gerações.

Cada família cumpre a sua missão, quando lhe é possível desenvolver-se como comunidade de pessoas ligadas por afectos, compromissos e por um elo de zelo mútuo, aberta à vida, à educação dos filhos e à solidariedade entre os membros, das diversas gerações que a compõem.

Para além da pessoa individualmente considerada, é nas famílias, que se deve centrar a análise e compreensão da realidade social, os critérios de decisão, o desenvolvimento de respostas e de acções.

Somos de opinião que é a partir das famílias que se pode construir uma sociedade mais humana, mais equilibrada, mais coesa e mais solidária.

Especialmente perante o idoso, a família vem assumindo um papel importante e inovador, na medida em que o envelhecimento acelerado da população, a que estamos assistindo, é um processo recente e ainda pouco estudado pelas ciências sociais.

Caberá aos membros da família entender o idoso, no seu processo de vida e de transformações, conhecer as suas fragilidades, modificando a sua visão e atitude sobre a velhice e colaborar para que o idoso mantenha a sua posição junto do grupo familiar e da sociedade.

A família precisa de um período de adaptação para aceitar e administrar com serenidade a nova situação, de forma a respeitar as necessidades dos pais e evitar que se sintam um encargo para os filhos. Daí a importância do idoso concentrar esforços para, nos mais diversos sentidos, não se entregar à inatividade evitando o mais possível o sentimento de dependência da família, que tanto aflige o idoso.

No terceiro milénio a família está cada vez mais distanciada do modelo tradicional, no qual o idoso ocupava lugar de destaque.

Estamos a viver  um  período de transição e mudanças, onde se torna necessário o entendimento das transformações sociais e culturais que se vêm processando nas últimas décadas, para enfrentarmos o nosso próprio processo de envelhecimento, dentro de expectativas condizentes com as novas formas de organização familiar.

Uma sociedade será aquilo que forem as suas famílias, sendo que a qualidade de vida das famílias é uma importante medida do nosso viver. Assim, torna-se necessário e importante que todos nos empenhemos  num trabalho orientado para o desenvolvimento duma política de família, para os nossos dias.

Com a emancipação e inserção das mulheres no mercado de trabalho, as dificuldades económicas dos novos casais, a lotação, escassez e encarecimento de espaços seguros onde as crianças possam ficar quando os pais trabalham, a redução das famílias numerosas e alterações nas estruturas familiares, solicitaram aos avós que abdicassem da sua calma reforma a dois e passassem a assumir um papel mais activo.

Na família, os avós de hoje, mais do que os “velhinhos” queridos e pacientes que brincam, mimam, contam histórias e passeiam com os netos sempre que estes os visitam, têm um papel bem mais comprometedor na vida dos seus netos.

relação que os avós estabelecem com os netos pode proporcionar como que uma fonte de gratificação, bem-estar e prazer, ao mesmo tempo que pode proporcionar uma oportunidade para reencontrar a sua auto-estima, pela “utilidade” que lhe é atribuída, pela partilha que fazem com os netos que, principalmente pelo característico espírito curioso dos mais novos, vão solicitar a sua sabedoria para a compreensão de tudo o que os rodeia.

Numa grande maioria de situações os netos acabam por funcionar como agentes muito importantes no “combate” à solidão, sentimento que frequentemente ameaça e assusta os idosos.

No entanto, qualquer que seja a estrutura na qual se organizará a família do futuro, há a necessidade de que se mantenham os vínculos afectivos entre seus membros e os idosos. Nesta fase da vida, o que o idoso necessita é sentir-se valorizado, viver com dignidade, tranquilidade e receber a atenção e o carinho da família.

Vasco Lopes da Gama

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