domingo, 25 de agosto de 2013

O Bom e o Ótimo

Há um ditado que parece ser disparate lógico: "o ótimo é inimigo do bom".

Em relação à tão propalada expressão “o ótimo é inimigo do bom” e, ao facto, dela ser tão discutida e difundida que, por vezes, uma generalização abusiva leva a que se pratique, sem critério, a transformação semântica da frase, substituindo-a por uma outra, com ressonâncias semelhantes: “o bom é inimigo do ótimo”.

Seja qual for o posicionamento relativo dos elementos significantes da frase, que não cabe aqui desenvolver, ela é frequentemente referida quando procuramos defender a ideia de que não vale a pena sermos muito exigentes relativamente a uma determinada coisa (o ótimo), aceitando a inevitabilidade de nos ficarmos sempre por uma mediania (o bom).

Na vida empresarial, sobretudo nas formas de organização marcadas pelos excessos da industrialização e da burocracia, tem sido aproveitado como bandeira de legitimação de práticas e atitudes daqueles que galharda e convictamente prosseguem o objetivo profissional de serem apenas “suficientemente bons para não serem despedidos”.

Em contextos cada vez mais difíceis, exige-se a todos os profissionais que “consigam fazer mais com menos”, o que só é possível através duma grande entrega e dum grande envolvimento pessoal, sem reservas mentais e barreiras, ou mesmo obstáculos, a uma verdadeira orientação tendo em vista a obtenção da excelência.

Assim, o paradigma mental já não pode ficar-se pelo “ser bom” pois, em condições sociológicas e de mercado só os “muito bons” conseguirão ter condições estimulantes e sustentáveis para viver percursos profissionais.

Nesta perspetiva, o “bom” será, realmente, “inimigo do ótimo”, sobretudo se se constituir como uma forma de auto-engano que nos impede de ver o que pode despontar em cada um de nós.

No entanto, melhor do que fazermos algo de forma “ótima”, é fazermos “o que precisa ser feito”!!!

Trabalho “bem feito” é aquele que serve para alguma coisa! E não aquele que foi feito de forma “ótima”, ou perfeito na sua confeção.

Às vezes empenhamo-nos em fazer algo, e até gostávamos do que estávamos a fazer, mas, a curto prazo, concluímos que isso não deu os resultados esperados...

Quando nos perguntam sobre o porquê, respondemos: "Porque não estava suficientemente bom".

Quase todos nós já passámos pela situação de “atrasar alguma coisa em que estávamos a trabalhar e a investir para procurar atingir o ótimo...”

Não raras vezes nos preocupamos mais com a perfeição, do que com o objetivo.

Ocupemo-nos, pois, mais com o objectivo, isto é, com “o que precisa ser feito”!

Pensemos, pois, duma forma mais ampla e deixemos fluir as ideias. Na maioria das vezes “não é a perfeição que conta – mas sim a eficácia e a utilidade”.

Se algo não for útil, pode ter a perfeição que tiver mas, ainda assim, continuará inútil.

No entanto, com isto, não queremos dizer que não se deve ter atenção (e não preocupação) em melhorar sempre, quer se trate “das nossas ações, do nosso trabalho, dos nossos projetos, das nossas competências...”.

Mas, quem fica focado apenas na busca da perfeição do trabalho, perde um tempo precioso para pensar em soluções!  – “Enquanto se busca o ótimo, deixa de se fazer o que é preciso ser feito…”

Resolver obstáculos (problemas) é uma arte que exige visão abrangente, exige empatia, criatividade, proatividade, e outras competências amplas.

Deixemos de exigir de nós próprios a perfeição! Procuremos ser úteis! Direcionemos as nossas ações para “o que precisa ser feito”!

“Certamente, todos se lembrarão de si pela quantidade de coisas úteis que criar! Faça o que precisa ser feito... Faça algo realmente útil!”
Vasco Lopes da Gama

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