Há um ditado que parece ser
disparate lógico: "o ótimo é
inimigo do bom".
Em relação à tão propalada expressão
“o ótimo é inimigo do bom” e, ao
facto, dela ser tão discutida e difundida que, por vezes, uma generalização
abusiva leva a que se pratique, sem critério, a transformação semântica da
frase, substituindo-a por uma outra, com ressonâncias semelhantes: “o bom é inimigo do ótimo”.
Seja qual for o posicionamento
relativo dos elementos significantes da frase, que não cabe aqui desenvolver,
ela é frequentemente referida quando procuramos defender a ideia de que não
vale a pena sermos muito exigentes relativamente a uma determinada coisa (o
ótimo), aceitando a inevitabilidade de nos ficarmos sempre por uma mediania (o
bom).
Na vida empresarial,
sobretudo nas formas de organização marcadas pelos excessos da industrialização
e da burocracia, tem sido aproveitado como bandeira de legitimação de práticas
e atitudes daqueles que galharda e convictamente prosseguem o objetivo
profissional de serem apenas “suficientemente
bons para não serem despedidos”.
Em contextos cada vez mais
difíceis, exige-se a todos os profissionais que “consigam fazer mais com menos”, o que só é possível através duma grande
entrega e dum grande envolvimento pessoal, sem reservas mentais e barreiras, ou
mesmo obstáculos, a uma verdadeira orientação tendo em vista a obtenção da
excelência.
Assim, o paradigma mental já
não pode ficar-se pelo “ser bom” pois,
em condições sociológicas e de mercado só os “muito bons” conseguirão ter condições estimulantes e sustentáveis para
viver percursos profissionais.
Nesta perspetiva, o “bom” será, realmente, “inimigo do ótimo”, sobretudo se se
constituir como uma forma de auto-engano que nos impede de ver o que pode despontar
em cada um de nós.
No entanto, melhor do que
fazermos algo de forma “ótima”, é
fazermos “o que precisa ser feito”!!!
Trabalho “bem feito” é aquele que serve para
alguma coisa! E não aquele que foi feito de forma “ótima”, ou perfeito na sua confeção.
Às vezes empenhamo-nos em fazer
algo, e até gostávamos do que estávamos a fazer, mas, a curto prazo, concluímos
que isso não deu os resultados esperados...
Quando nos perguntam sobre o
porquê, respondemos: "Porque não
estava suficientemente bom".
Quase todos nós já passámos pela
situação de “atrasar alguma coisa em
que estávamos a trabalhar e a investir para procurar atingir o ótimo...”
Não raras vezes nos preocupamos
mais com a perfeição, do que com o objetivo.
Ocupemo-nos, pois, mais com
o objectivo, isto é, com “o que precisa
ser feito”!
Pensemos, pois, duma forma mais
ampla e deixemos fluir as ideias. Na maioria das vezes “não é a perfeição que conta – mas sim a eficácia e a utilidade”.
Se algo não for útil, pode
ter a perfeição que tiver mas, ainda assim, continuará inútil.
No entanto, com isto, não
queremos dizer que não se deve ter atenção (e não preocupação) em melhorar
sempre, quer se trate “das nossas ações, do
nosso trabalho, dos nossos projetos, das nossas competências...”.
Mas, quem fica focado apenas
na busca da perfeição do trabalho, perde um tempo precioso para pensar em
soluções! – “Enquanto se busca o ótimo, deixa de se fazer o que é preciso ser feito…”
Resolver obstáculos
(problemas) é uma arte que exige visão abrangente, exige empatia, criatividade,
proatividade, e outras competências amplas.
Deixemos de exigir de nós
próprios a perfeição! Procuremos ser úteis! Direcionemos as nossas ações para “o que precisa ser feito”!
“Certamente, todos se lembrarão de si pela quantidade de coisas úteis que criar! Faça o que precisa ser feito... Faça algo realmente útil!”
Vasco Lopes da Gama
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